A questão do poder nas sociedades primitivas

A Questão do Poder nas Sociedades Primitivas Pierre Clastres

Duas décadas de transformação e a questão da etnologia passa a ser vista por outro prisma que não aquele onde se acreditava existirem civilizações como a européia, absolutamente superiores às demais o que passa a ser contestado com olhar do relativismo cultural que deixa clara a “coexistência” das diferenças sócio-culturais, deixando de lado a comparação valorativa destas. A questão do relativismo cultural trouxe a ideia de que as sociedades são diferentes, cada qual com seus valores, nenhuma melhor do que a outra.

Em outras palavras, não se projeta mais sobre as sociedades primitivas o olhar curioso ou divertido do amador mais ou menos esclarecido, mais ou menos humanista; elas são levadas de certo modo a sério. (p. 145)

Clastres nos leva a compreender o que são as sociedades primitivas. Estas são aquelas onde não há a presença do Estado, onde não existe uma divisão entre as mesmas e o poder político. Sendo assim, pode-se dizer que há uma primeira classificação das sociedades que acabam por se dividir em dois grupos: das que possuem o Estado e daquelas que não o possuem, que são as sociedades primitivas. Não é possível, no entanto, generalizar este conceito admitindo com isso uma igualdade entre as sociedades com a presença do Estado. “[...] não se poderia reduzir a um único tipo as diversas figuras do Estado, e nada permite confundir entre si e o Estado despótico arcaico, o Estado liberal burguês, ou o Estado totalitário fascista ou comunista”. (p.146). Há, no entanto, algo que se pode observar como característica própria de cada uma dessas sociedades. Todas as sociedades com Estado são divididas entre dominantes e dominados, já aquelas que não possuem Estado, desconhecem essa divisão, ou seja, podemos dizer que são homogêneas porque o poder não é um órgão em separado.

Levar a sério estas sociedades primitivas segundo