A questão do poder nas sociedades primitivas
O desenvolvimento ocorrido nas duas últimas décadas marcou uma mudança no paradigma das sociedades primitivas. O que acabou por livrá-las se não a seu destino (o desaparecimento), ao menos do exílio, afastamento que as condenava, devido a um pensamento tradicional exotista ocidental. A convicção de que as sociedades europeias que eram consideradas superiores deu lugar a um relativismo cultural que renunciando à afirmação imperialista de uma hierarquia de valores, admite a coexistência de diferenças sócio-culturais e isso influencia diretamente no modo como as sociedades primitivas eram tratadas passando a serem “levadas a sério”.
As sociedades são classificadas quanto a presença ou ausência do Estado, o que torna as sociedades primitivas, por serem sem Estado, diferentes das demais. As sociedades com Estado, no entanto, também se diferenciam entre si, porque não se pode unifica-las, reduzindo-as a um único tipo, pois não podemos confundir o Estado despótico arcaico com o liberal burguês ou com os Estados totalitários fascistas ou comunistas e vice versa. Há que se classificar as sociedades com Estado e diferencias das que não possuem. As primeiras são divididas em seu ser, têm dominantes e dominados, enquanto as primitivas ignoram essa divisão, pois nelas o poder não está separado da sociedade.
De certa forma o “levar a sério” significou refletir primeiramente sobre o fato de nas sociedades primitivas não se poder separar a esfera política da esfera do social. O pensamento que predominava era o de que “o homem é um animal político”, procurava-se ver no político a essência do social humano. Pensadores como Heráclito, Platão e Aristóteles afirmavam que a sociedade não é pensável e deve haver a divisão entre os que mandam e os que obedecem. Os primeiros europeus ao encontrarem com os índios e perceberem que havia uma troca mútua entre eles e não uma separação entre os que mandavam e os que obedeciam, disseram