A partir das análises desenvolvidas por Eric Hobsbawn e Benedict Anderson a respeito da idéia de Nação e de Nacionalismo, em que medida poderíamos compreender a ação política dos intelectuais?
Não é o caso de retomarmos aqui a análise desse complexo processo histórico que levou à construção dessa noção tão específica de nação. Os estudos citados são mais do que convincentes. É importante, porém, ressaltar, a partir desses trabalhos, que o nacionalismo, tal como se desenvolveu na Europa do século passado, é uma forma específica de identidade coletiva. Diversidades étnicas, lingüísticas e culturais sempre conviveram na Europa sem servirem de pretexto para a definição de uma unidade política nacional. Ao contrário, como bem demonstra Benedict Anderson ao referir-se aos casamentos entre herdeiros de famílias reais, a natureza dessas alianças, que alteravam profundamente o mapa político europeu, não tinha por fundamento considerações tais como unidade de língua ou de origens étnicas dos grupos específicos que reuniam. Também a Revolução Francesa foi estranha, e até mesmo hostil, ao nacionalismo. Embora a idéia da "autodeterminação popular", cunhada pela revolução, tenha estabelecido a equação Nação=Estado=Povo soberano, e, portanto haja vinculado definitivamente a nação a um território, não era a língua ou a etnia o que dava sustentação ao sentimento de nacionalidade, e sim a noção política de cidadania. O uso do francês era considerado um critério absolutamente secundário para tornar uma pessoa cidadã da nação francesa. O historiador Eric Hobsbawn chama atenção para o fato de que os "especialistas franceses lutaram tenazmente contra as tentativas de se fazer da língua falada um critério de