A Particularidade
Maria da Graça Jacintho Setton
Introdução
Embora os estudos sobre a problemática da socialização sejam abundantes no campo da sociologia da educação (cf. Foracchi e Pereira, 1973; Foracchi e Martins, 1980; Gomes, 1988, 1989; Van Zanten e Duru-Bellat, 1999), é possível observar um tímido debate sobre a particularidade desse processo de interação social vivido na atualidade (cf. Dubet, 1996, 1998; Charlot,
2000; Dubar, 2000, Lahire, 1998). Este artigo tem como intenção refletir sobre a emergência de novos modelos de socialização. Pretendo abordar o processo de construção da identidade social e pessoal do indivíduo na atualidade, a partir das transformações sofridas no interior das agências tradicionais da educação. Proponho ainda compreender o surgimento de outras instâncias que compartilham a responsabilidade na formação da subjetividade e das representações dos indivíduos no mundo contemporâneo.
Para refletir sobre essas considerações, irei referir-me primeiramente às contribuições de Anthony Giddens (1991). Creio que esse autor, ao articular três dimensões das transformações na modernidade (a ressignificação do tempo/espaço, o desencaixe e a reflexividade), ajuda-nos a mapear uma nova configuração social. Para Giddens, é possível observar o “‘deslocamento’ das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço”. Nesse sentido,
A particularidade do processo de socialização contemporâneo, pp. 335-350
1. Por cultura de massa entendo o processo mundializado de produção e difusão de mercadorias de caráter simbólico. Remeto-me sobretudo às análises de Morin (1984).
[...] o advento da modernidade arranca crescentemente o espaço do tempo fomen-
2. A noção de cultura é aqui utilizada com um sentido bastante específico. Extrapolando o sentido antropológico do termo, ou seja, um sistema de valores e normas de