A participação brasileira nas negociações tarifárias da Toquio
Transição malograda de um poder emergente?
A participação brasileira nas negociações tarifárias da
Rodada Tóquio
Thwarted transition of an emerging power? Brazilian participation in the tariff negotiations of the Tokyo Round
Rogério de Souza Farias*
Rev. Bras. Polít. Int. 51 (2): 179-196 [2008]
Introdução
Este artigo perscrutará a participação brasileira nas negociações tarifárias do GATT na rodada Tóquio (1973-1979). Será argumentado que houve uma mudança da posição do Itamaraty sobre os benefícios que o país poderia ter em barganhar interesses concretos nessas negociações. O que justificou tal mudança foi uma percepção distinta do interesse nacional, dinâmica associada ao crescimento da economia brasileira, à experiência com as negociações comerciais da década de 1960 e ao crescente unilateralismo americano. Essa percepção, porém, não era generalizada no aparelho estatal, de forma que outros órgãos governamentais impediram que a nova estratégia do Itamaraty fosse implementada de maneira adequada1. A análise do caso é relevante por quatro motivos. Primeiro, apesar de a literatura considerar a política externa brasileira do período dentro do marco de uma “autonomia pela distância”, é visível uma mudança das crenças dos diplomatas sobre os benefícios que o país poderia ter nas negociações comerciais multilaterais do Gatt, inclusive na área tarifária (Fonseca Jr.: 1998, 359-63; Lafer:
2000, 263-5; Ribeiro: 2006). Segundo, mesmo sendo essa transição de crenças condição necessária para uma mudança da posição do país, será argumentado que a participação de outros atores governamentais no processo decisório obstaculizou um ativismo maior no plano multilateral, o que demonstra como a política econômica externa era bem mais complexa do que a simples retórica
* Mestre e Doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília – UnB (rofarias@gmail.com).
1 Este artigo é extensivamente baseado na dissertação de mestrado do