A Paixão de Cristo – A Verdade pela Fantasia - Karina Kosicki Bellotti
O filme do ator e diretor Mel Gibson, A Paixão de Cristo, vem causando certa celeuma na imprensa e nos meios religiosos (cristãos e judaicos) há quase dois anos, quando foi divulgado o projeto de se fazer um filme totalmente falado em aramaico e latim sobre as doze últimas horas de Jesus Cristo.
Segundo Gibson, em diversas entrevistas[1] , a idéia para o filme vinha sendo gestada há doze anos, quando ele teve uma experiência pessoal religiosa muito intensa. E é como uma reflexão ou interpretação sobre um fato religioso que o filme deve ser visto. Não é entretenimento, mas também não é um show de violência gratuita. Para entendermos esse filme, há que analisar toda uma tradição de filmes sobre Cristo, quase centenária, assim como é necessário saber um pouco de história do Cristianismo e de representações iconográficas cristãs. A maioria das críticas feitas por jornalistas e críticos de cinema analisaram a obra com mero filme, e não como um texto de expressão religiosa. Esta resenha não pretende elogiar nem massacrar a produção, mas entender como a história da Paixão de Cristo foi retratada neste filme dirigido por Mel Gibson.
Violência – A simbologia do sofrimento e do sangue
Poderíamos perguntar: por que as pessoas até hoje, dois mil anos depois de Cristo, ainda sairiam de casa para assistir a uma história cujo final é mais do que conhecido? A resposta está na forma como essa história é contada. E o que pensar quando tal história é a narrativa principal de uma crença religiosa? De certa forma, as pessoas procuram não somente o entretenimento (que existe, mas não é determinante), mas tanto um novo sentido para algo conhecido como um sentido de algo desconhecido; enfim, a busca por uma mensagem que vá tocá-las pessoalmente.
No caso de A Paixão, a mensagem do filme é bem clara, e explicitada logo no início do filme, aberto por versículos de Isaías 53[2]: a de que um Messias viria para sofrer pelos pecados humanos. Isaías foi um profeta judeu