A Mulher de Vermelho
Era um sábado cinza, havia chovido a maior parte do dia, e aparentava que iria chover mais. Meus sábados vinham sendo os mesmos a quase um ano: vinha para casa e bebia até cair. Só. Acabava o final de semana dormindo, quase em coma alcoólico.
Porém, nesse sábado cinzento de outono, decidi fazer algo diferente. Liguei para os poucos amigos que sobraram durante os anos. Nenhum podia, ou sequer atendera. Parti a procura de conhecidos. Conhecidos, sabe? Aquele suposto amigo com quem você não tem intimidade, que talvez o esfaqueie pelas costas (ou não). Tony atendera, e disse-me para "passar por lá", então fui.
Ao chegar em sua casa, começamos a falar sobre bons tempos que não tivemos. A mãe de Tony surgira do nada e me cumprimentou. Estava morando com seu filho, por causa de algo sobre depressão e tentativa de suicídio, não prestei atenção. Após um tempo, já era quase noite, ele dissera:
- Cara, desculpe não poder passar mais tempo com você, mas tenho uma festa para ir.
-Claro.
- A não ser que você queira vir junto...
"Uma festa, por quê não? Uma chance de sair do "mais do mesmo". Ao menos poderia cair de bêbado em outro lugar", pensei.
- Tudo bem. - disse eu. ...
Tony pegou o carro de seu pai e partimos. Estávamos vestindo um traje social, e eu não me arrumara daquele jeito fazia muito tempo. A sensação de ter uma gravata no pescoço fez-me sentir preso. Preso a uma falsa imagem de classe. Nunca senti isso, sempre andei de qualquer jeito.
Ao chegamos na festa, vi uns rostos familiares. Observei pessoas que pareciam ser simpáticas e escolhi uma mesa qualquer ao fundo. Tony sumira. Pedi uma cerveja, serviram-me água. "Uma festa sem álcool, é.", do jeito que a noite seguia, não esperava que fosse melhorar... Foi então que, em um vislumbre, tive a visão que mudaria tudo: uma verdadeira deusa, vestida em vermelho. Mal tive tempo de raciocinar, e a mulher se aproximou, lançou-me um sorriso e