A mulher da mascara de Ferro
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A mulher da mascara de ferro. Nasci sem pedir, num lugar hostil e chorando, exatamente como todos nascem. Porem, diferente da maioria eu segui chorando. Brinquei com meus irmãos, ri e corri. Mas minha brincadeira favorita era esconde-esconde. Bem, hoje as vezes penso que essa brincadeira poderia não ter fim. Quando me tornei mocinha, me deram a maldita mascara. Prenderam-na no meu pescoço, sobre minha cabeça e ombros. Eu não podia ir a lugar nenhuma sem ela. Ia para escola me desviando dos olhares inquisidores, dos comentários constrangedores e das explicações inevitáveis. Nunca concordei totalmente com a doutrina, mas ela me seguia e nunca fui realmente livre para escolher. Não culpo esses ensinamentos. Minha mãe os ensinava por amor, meu pai os ensinava por amor, porem não me deixavam escolha senão seguir. Sobre isso já não sei se era tanto amor... E assim, já não posso mais seguir sem ela. A máscara que tanto me esconde virou parte de mim e resolver quebra-la é sinônimo de não poder mais ver meus pais, meus irmãos, desfrutar da minha cultura ou até adorar meu deus. Virou um fardo para mim e tenho que leva-lo. Sei que para minha mãe e suas amigas é normal, é um orgulho, é encantador, mas para mim é só uma mascara, não me significa nada que não uma algema, uma coleira que identifica de onde eu vim. E como é pesada! Nunca poder sentir os cabelos ao vento, sentir os raios de sol na pele, me molhar nas aguas do mar. O mais assustador é não poder me ver sem ela. De me imaginar daqui a anos frustrada e indignada, sem poder reclamar. Quando penso em rompe-la vejo que tenho muito a perder, mas olhando tudo que já perco, não sei se perderei tanto assim no fim das contas...