A mediadora
Eu não acreditei neles, mas foi o que me disseram. Me disseram que eu seria capaz de vê-las do avião.
Oh, eu sei que eles têm palmeiras no sul da Califórnia. Quer dizer, não sou uma idiota completa. Assisti a série 90210, e tudo mais. Mas eu estava indo para o norte da Califórnia. Não esperava ver palmeiras no norte da Califórnia. Não depois que minha mãe me impediu de doar todas as minhas blusas.
— Oh, não — minha mãe tinha dito. — Você vai precisar delas. Suas capas também. Pode ficar frio lá. Talvez não tão frio quanto em Nova York, mas bem friozinho.
E era por isso que eu usava minha jaqueta preta de couro de motociclista no avião. Poderia ter enviado, acho, com o resto da bagagem, mas a conversa de me fez sentir que era melhor usá-la.
Lá estava eu naquele avião, com uma jaqueta de motociclista, vendo as palmeiras pela janela ao aterrissar. E pensei: genial. Jaqueta de couro e palmeiras. Não podia ter sido melhor, exatamente como eu achava que seria...
... Não.
Minha mãe não gosta muito da minha jaqueta de couro, mas juro que não a vesti para deixá-la furiosa, ou algo assim. Não fiquei aborrecida com o fato de ela ter decidido casar com um sujeito que vive a 4.800 quilômetros de distância, me obrigando a sair do colégio no meio do primeiro ano; a abandonar a melhor – no fundo, a única – amiga que tive desde o jardim de infância; a deixar a cidade onde vivi todos os meus 16 anos.
Não mesmo. Não fiquei nada aborrecida.
Pois o fato é que eu realmente gosto do Andy, meu novo padrasto. Ele é bom para a minha mãe. Ele a deixa feliz. E é superbonzinho comigo.
Essa história de mudar para a Califórnia é que me deixou meio fora de esquadro.
Oh, já mencionei os três filhos de Andy?
Estavam todos lá para me receber quando desci do avião. Minha mãe, Andy e os três filhos dele. Soneca, Dunga e Mestre. É como eu os chamo. São os meus novos meios-irmãos.
— Suze!
Mesmo que eu não tivesse ouvido minha mãe berrando meu nome