A língua culta x A língua do povo
Logo no início da viagem, assim que a turma do Sitio adentra a cidade de
Portugália, onde residem as palavras de Língua Portuguesa, no capítulo
“Portugália”. A cidade é descrita como “[...] uma cidade como todas as outras, a gente importante morava no centro e a gente de baixa condição, ou decrépita, morava nos subúrbios” (LOBATO, 2008, p. 21).
Pode-se observar nesse enunciado que a descrição da cidade apresenta uma distinção de grupos sociais e, consequentemente, a relação desses grupos com a língua. De acordo com Alkimim (2004), a avaliação social das variedades lingüísticas é um fato observável em qualquer comunidade da fala. Em todas as comunidades, existem variedades que são consideradas superiores e outras inferiores, como acontece na descrição da cidade.
“A gente importante” pode ser interpretada como aquelas que utilizam as variedades de maior prestígio social, como a variedade padrão, estabelecida pelo conjunto de normas que definem o modo “correto” de falar. Pela perspectiva da
595
sociolinguística, esse melhor modo de falar corresponde aos hábitos linguísticos socialmente dominantes que, historicamente, coincidem com a variedade falada pela nobreza, burguesia, pelos habitantes de núcleos urbanos e também pelos centros de poder econômico e sistema cultural predominante.
A “gente de baixa condição, ou decrépita” seria, por sua vez, as variedades não prestigiadas socialmente, que são colocadas nesse enunciado como condição de inferioridade em relação à língua dos moradores do centro da cidade. Nessa concepção de estudos linguísticos, colocar essa variante nesse patamar é inadequado já que as diferenças linguísticas são inerentes ao fenômeno linguístico; a língua é adequada à comunidade que a utiliza, permitindo a expressão de seu mundo físico e simbólico. Como Alkimim (2004, p. 42)
[...] as línguas não são homogêneas e a variação observável em todas elas é produto de sua história e de seu