Norma culta e preconceito
N
Resumo
este artigo, discute-se o termo norma culta, caracterizando-se seus diferentes conceitos e suas implicações nos estudos lingüísticos e no ensino do português. Ressaltando os preconceitos sócio-lingüísticos subjacentes ao uso do termo, o autor propõe o uso de normapadrão e variedade prestigiada (essa última contrapondo-se a variedade estigmatizada), a fim de dar conta, de forma não preconceituosa, das diferentes acepções do termo.
N o que diz respeito às questões sociolingüísticas, o conceito de norma não é dos mais claros. Para começar, esta palavra quase nunca anda sozinha no discurso das pessoas que falam sobre a língua. Dona Norma, na maioria das
*s
Instituto de Letras (Departamento de Lingüística),
Universidade de Brasília (UnB).
Veredas, revista de estudos lingüísticos
Juiz de Fora,
v. 5, n. 2
p. 71 a 83
vezes, é citada com nome e sobrenome, isto é, vem seguida de algum qualificativo que tenta defini-la mais especificamente. Dentre os adjetivos usados para qualificar a norma, o mais comum, certamente, é o adjetivo culta, e a expressão norma culta circula livremente nos jornais, na televisão, na internet, nos livros didáticos, na fala dos professores, nos manuais de redação das grandes empresas jornalísticas, nas gramáticas normativas, nos textos científicos sobre língua etc.
Mas o que é, afinal, essa norma culta?
A maior dificuldade em lidar com a norma culta é o fato de ela ter dupla personalidade. Realmente, por trás desse rótulo norma culta se escondem dois conceitos bastante diferentes na verdade, antagônicos quando se trata da língua que falamos e escrevemos.
Norma culta: um preconceito milenar
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O primeiro desses conceitos é o que poderíamos chamar do senso comum, tradicional ou ideológico, e é aquele que tem mais ampla circulação na sociedade. Na verdade, trata-se muito mais de um