Mídia, preconceito e revolução
Marcos Bagno
“Numa época em que a discriminação em termos de raça, cor, religião ou sexo não é publicamente aceitável, o último baluarte da discriminação social explícita continuará a ser o uso que uma pessoa faz da língua.” (James Milroy)
Prólogo
Preconceito Linguístico Ou Social?
O preconceito linguístico não existe, o que existe de fato é um profundo preconceito social.
A língua é parte constitutiva da identidade individual e social da cada ser humano – nós somos a língua que falamos. A língua não é uma abstração: muito pelo contrário, ela é tão concreta quanto os mesmos seres humanos de carne e osso que servem dela e dos quais ela é parte integrante.
A língua em grande medida é opaca, não é transparente. Isso faz da prática da interpretação uma atividade fundamental da vida humana, da interação social.
A língua não é apenas uma ferramenta que devemos usar para obter resultados: ela é a ferramenta e ao mesmo tempo o resultado, ela é o processo e o produto. E não é uma ferramenta pronta: é uma ferramenta que nós criamos exatamente enquanto vamos usando ela.
Para Quem Valem As Regras De Concordância?
A noção de erro é a demonstração mais nítida que se pode oferecer do caráter eminentemente social do preconceito linguístico.
Normalmente quem o vê erro na língua dos cidadãos da camadas menos favorecidas são pessoas das camadas mais privilegiada da população.
Por Que Há Erros Mais Errados Que Outros?
Há erros mais “errados” ou mais “crassos” do que outros – a escala de “crassidade” é inversamente proporcional à escala do prestigio social: quanto mais baixo ele estiver na pirâmide das classes sociais, mais erros (e erros mais “crassos”) os membros das classes privilegiadas encontram na língua dele.
erro PRESTÍGIO
ERRO