A INVENÇÃO DA FAVELA: do mito de origem a favela.com
Janeiro: FGV, 2005. 204 p.
Linda M. P. Gondim
A invenção da favela é uma daquelas obras que já nascem clássicas, no sentido de representar um marco, pela originalidade, abrangência e profundidade, no estudo de um tema ou campo do conhecimento. O livro é referência obrigatória para os pesquisadores do fenômeno favela, qualquer que seja o enfoque adotado – haja vista a maestria com que Lícia Valladares consegue articular a análise das ideologias com a discussão do contexto histórico, dando conta, simultaneamente, das dimensões material e simbólica que constituem a realidade social.
A Autora explicita, nos primeiros parágrafos do texto, que seu objeto são as representações construídas por diversos atores ao longo dos cem anos de existência das favelas, não se detendo em suas causas nem em sua evolução, suas manifestações e conseqüências, expressas em indicadores quantitativos no contexto urbano. Esses aspectos, porém, não estão de modo algum ausentes da análise.
A invenção da favela insere-se numa trajetória intelectual e profissional marcada pela seriedade e coerência, sem prejuízo da ousadia e da criatividade.1 Desde o início de sua experiência como pesquisadora, ainda estudante de Ciências
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O entrelaçamento entre a carreira de Licia Valladares e a história da pesquisa sobre favelas no Rio de Janeiro fica evidente em diversas partes do livro, o que só contribui para enriquecer o tratamento do tema. Nesse sentido, ao se referir à sua experiência, seria mais adequado que a
Autora utilizasse sempre a primeira pessoa do singular, como faz na Introdução, ao invés de recorrer a um “nós”
Sociais no Rio de Janeiro, a curiosidade intelectual, a reflexão teórica e um cuidadoso trabalho empírico conduziram seus passos no estudo da questão habitacional e, em particular, das favelas.
Numa época (1967-68) em que pesquisa social era sinônimo de