A Ideia de Deus - Sampaio Bruno
Enraizado pela tradição filosófica ocidental, o pensamento de sobrevoo consiste numa barreira que impede o próprio pensamento de habitar a realidade e apenas um trabalho em heterodoxia, contra as doutrinas clássicas, permitirá ultrapassar esse obstáculo. A ideia de Deus (que leva ao pensamento de sobrevoo), traduz o registo da ortodoxia, que intocável defende o mal como um sentimento desenvolvido e formado por nós, os mortais. A relação entre fé e razão é possível, existe compatibilidade entre as duas, até ao ponto em que a fé coloque em causa os princípios estruturantes da atividade da razão. Há que submeter a ideia de Deus à crítica, de forma a superar o obstáculo que separa o pensamento da realidade. Se for possível discutir a ideia de Deus, será possível devolver a razão aos seus princípios estruturantes, suspendendo essa ideia de suma perfeição. Como é que um Deus sumamente bom se compatibiliza com a existência do mal? Ou Deus quer tirar o mal e não pode, o que o torna impotente, ou pode e não quer, sendo por isso maldoso, ou nem pode nem quer, revelando-se impotente e maldoso, ou pode e quer, mas por algum motivo também ele padeceu do mal e ainda não se conseguiu reerguer. Bruno começa por refutar dois argumentos ontológicos clássicos, o argumento ontológico de Santo Anselmo e o argumento ex-nihilo. O argumento de Santo Anselmo consiste em: “Tenho no meu pensamento a ideia de um ser perfeito, o maior que se pode pensar. A existência é uma perfeição. Logo, Deus existe com necessidade.” Segundo Santo Anselmo qualquer um de nós consegue conceber um ser perfeito sem recorrer á razão e existir é mais perfeito do que não existir, logo se Deus, o maior que se pode pensar, é perfeito, a existência é uma inquestionável característica dessa perfeição, é necessário que Deus exista. Este argumento foi sedimentado para promover a ideia de Deus, a barreira entre o pensamento e a realidade e por isso é