A hora e a vez
A questão a seguir utiliza como referência um texto de Bernardo Guimarães, escritor romântico mineiro bastante conhecido por ter escrito a obra adaptada para a televisão A escrava Isaura (1875). O livro O seminarista (1872), entretanto, é considerado pela crítica sua melhor obra. O romance focaliza o tema do celibato clerical.
A questão 1 trabalha com uma crítica feita pelo narrador do texto em relação à idealização das heroínas românticas.
(UNESP 2007) O texto a seguir deve ser utilizado para responder às questões 1 e 2.
O garimpeiro
Lúcia tinha dezoito anos, seus cabelos eram da cor do jacarandá brunido, seus olhos também eram assim, castanhos bem escuros. Este tipo, que não é muito comum, dá uma graça e suavidade indefinível à fisionomia.
Sua tez era o meio termo entre o alvo e o moreno, que é, a meu ver, a mais amável de todas as cores. Suas feições, ainda que não eram de irrepreensível regularidade, eram indicadas por linhas suaves e harmoniosas. Era bem feita, e de alta e garbosa estatura.
Retirada na solidão da fazenda paterna, desde que saíra da escola, Lúcia crescera como o arbusto do deserto, desenvolvendo em plena liberdade todas as suas graças naturais, e conservando ao lado dos encantos da puberdade toda a singeleza e inocência da infância.
Lúcia não tinha uma dessas cinturas tão estreitas que se possam abranger entre os dedos das mãos; mas era fina e flexível. Suas mãos e pés não eram dessa pequenez e delicadeza hiperbólica, de que os romancistas fazem um dos principais méritos das suas heroínas; mas eram bem feitos e proporcionados.
Lúcia não era uma dessas fadas de formas aéreas e vaporosas, uma sílfide ou uma bayadère*, dessas que fazem o encanto dos salões do luxo. Tomá-la-íeis antes por uma das companheiras de Diana a caçadora, de formas esbeltas, mas vigorosas, de singelo mas gracioso gesto.
Todavia era dotada de certa elegância natural, e de uma delicadeza de sentimentos que não se esperaria