A globalização e o curso do capitalismo de fim-de-século
François Chesnais
Introdução
O contexto macroeconômico mundial dos anos 90 apresenta traços marcantes. Ressaltamos em particular: taxas de crescimento do PIB muito baixas, inclusive em países (como o Japão) que desempenharam tradicionalmente o papel de “locomotiva” junto ao resto da economia mundial; deflação rastejante; conjuntura mundial extremamente instável, marcada por sobressaltos monetários e financeiros cada vez mais freqüentes; alto nível de desemprego estrutural; marginalização de regiões inteiras em relação ao sistema de trocas e uma concorrência internacional cada vez mais intensa, geradora de sérios conflitos comerciais entre as grandes potências da Tríade.
Este artigo defende a hipótese de que todos esses traços característicos decorreriam de um novo regime mundial de acumulação, cujo funcionamento dependeria das prioridades do capital privado altamente concentrado – do capital aplicado na produção de bens e serviços, mas também, de forma crescente, do capital financeiro centralizado, mantendo-se sob a forma de dinheiro e obtendo rendimento como tal. Este regime de acumulação, ao qual corresponderiam as formas conjunturais específicas descritas acima, seria fruto de uma nova fase no processo da internacionalização, que, chamo de “mundialização do capital”
(Chesnais, 1994). A economia mundial parece ter ingressado numa fase depressiva de longa duração, da qual somente poderia sair mediante choques
“externos” à economia, no sentido estrito da palavra. Os mecanismos endógenos do capitalismo, em particular nos países centrais do sistema, tendem a ter por alvo menos a acumulação sob a forma de investimentos geradores de nova capacidade do que a salvação/manutenção das posições adquiridas (cuja posição financeira rentista constitui a expressão mais acabada). As posições adquiridas são fruto da expansão anterior, mas foram reforçadas pelas profundas modificações ocorridas