A força do imaginário nordestino
O folclorista Câmara Cascudo dizia que Padre Cícero, Lampião e Luiz Gonzaga representavam a tríade da alma nordestina: fé, coragem e musicalidade. Andando por Juazeiro, interior do Ceará, pesquisando para realização de longa-metragem sobre Luiz Gonzaga, conversei com um senhor que confirmou: “Padim ama, Lampião mata e Luiz canta!”. Sorriu e continuou: “Padim era homi bom, sábio e tinhoso. Foi Jesus numa visão que ordenou que cuidasse de nós. Se Padim é assim com Deus, Lampião é com o Diabo! Nordestino é assim, povinho tinhoso. Vai por bem ou por mal, mas num se entrega, canta!”. Cascudo fez uma cartografia simbólica do Sertão e apaixonou-se de tal forma que afirmava ser necessária uma existência inteira voltada ao seu amor. Acreditava que ali o Brasil revelava uma identidade genuína, profunda. A evolução de uma região é uma construção humana. Sustentabilidade não é engenharia, é mudar o modo de pensar. Para poder construir modelos de desenvolvimento autônomo, acredito ser necessário nos conhecer melhor e democratizar um pensar que transforme conhecimento em bem-estar.
A Secretária de Assuntos Estratégicos, órgão do governo com status ministerial, criada com o objetivo de formular políticas públicas de longo prazo voltadas ao desenvolvimento econômico e social do Brasil, publicou num primeiro estudo que a força da identidade nordestina é uma das nossas soluções. O documento ressaltou que a forte identidade e história do povo poderia impulsionar a construção de um modelo autônomo e livre que ancore o social no econômico de modo sustentável, includente e mobilize recursos humanos, sociais e culturais. As linhas centrais da proposta estão ancoradas nas forças construtivas do nordestino. Em primeiro lugar o empreendedorismo, a cultura de autoajuda e iniciativa. Em segundo, a força inventiva. E a certeza de que dar asas a essas forças era nossa garantia da construção de um modelo produtivo e democratizante.
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