A formiga e a cigarra
Recapitulando a fábula, a cigarra passa o verão inteiro a tocar e cantar. Enquanto isso, a pobre formiga trabalha, faz “hora extra”, dedica toda sua força e seu tempo para acumular, pensando no inverno que virá. A cigarra, despreocupada, vê a formiga e pergunta: – por que não paras um pouco de trabalhar e senta-te comigo? A formiga responde: – preciso trabalhar enquanto há tempo bom, e você, o que fará quando o inverno chegar? – Ah, não sei, pensarei nisso outra hora, responde a cigarra. Quando chega o inverno, as árvores já varridas pelo outono nada mais têm a oferecer aos insetos. A cigarra está com frio e procura abrigo. Está com fome, mas não há mais folhas ou frutos. Precisa, então, pedir, e vai bater a porta da precavida formiga.
Essa fábula, apresentada para educar as crianças na sociedade capitalista ocidental negaria a exploração do homem pelo homem (representados pelos insetos). Por isso, foi escurraçada da cabeceira dos filhos de muitos pais. Entretanto, reanalisando a fábula, a vi por outra perspectiva, e ela que quero compartilhar. A formiga, trabalhadora dedicada, teve ao fim de seu longo verão, a possibilidade de descansar o inverno. Não precisou se expor ao rigoroso frio e a um clima hostil. Do contrário, os trabalhadores não têm descanso. Muitos não conseguem míseras férias de 30 dias. São expostos a jornadas extensas, em condições insalubres. Faça chuva, sol, muito frio ou calor, lá estão eles (e elas). Sua roupa, quase um uniforme, não pode mudar em certas empresas.