A face humana da globalização
Nadime Gordimer.
Caros cidadãos do século 21, não há como escapar ao passado, e é preciso que se olhe com honestidade a herança que receberam. Ela tem muitos aspectos. Escolho o dos novos conceitos que surgiram durante a minha vida como filha daquela era. Um, deles, de grande importância para as vidas de vocês que agora estão no comando, é o da globalização. A viabilidade da globalização deriva dos imensos avanços tecnológicos do século 20, particularmente nos meios de comunicação, do satélite em meio às estrelas ao computador em todos os escritórios. Informação pode ser trocada com o mundo inteiro em tempo real; a distância não significa nada desde que o jato tenha combustível para continuar a devorá-la. A globalização tem todos os meios para se regulamentar, na forma que vem tomando até agora: primordialmente como um mundo único de investimento, uma superferramenta de finanças internacionais. Mas ela tem um rosto humano?
A verdadeira necessidade de globalização – que vocês terão de enfrentar – é nada menos do que a questão de definir se com ela é possível encurtar a distância entre países pobres e ricos. Que papel a globalização pode desempenhar na erradicação da pobreza? Porque a pobreza coloca uma máscara de exclusão de desumanidade em mais de três bilhões dos habitantes do planeta? Se a globalização vai ter uma face humana em seu século, a premissa é que o desenvolvimento trate de pessoas interagindo no planeta que ocupamos, até agora, sem compartilhá-lo.
Consumo descontrolado - Isso não será conquistado, porém, por meio de compras mundiais na Internet. No século 20, o consumo cresceu de forma sem precedentes, atingindo os US$ 24 bilhões em 1998, mas essa festa de gastos devoradores, longe de beneficiar os pobres, em alguns aspectos solapou as perspectivas verdadeiramente humanas da globalização: o desenvolvimento sustentável para todos. O consumo descontrolado no mundo