A Existncia tica (Adaptao de CHAUI, M., Convite Filosofia, So Paulo tica, 1995 (4 edio), pp. 334-339.) I Introduo tica senso moral e conscincia moral 1 Muitas vezes, tomamos conhecimento de movimentos nacionais e internacionais de luta contra a fome. Ficamos sabendo que, em outros pases e no nosso, milhares de pessoas, sobretudo crianas e velhos, morrem de penria e inanio. Sentimos piedade. Sentimos indignao diante de tamanha injustia (especialmente quando vemos o desperdcio dos que no tm fome e vivem na abundncia). Sentimos responsabilidade. Movidos pela solidariedade, participamos de campanhas contra a fome. Nossos sentimentos e nossas aes exprimem nosso senso moral. 2 Quantas vezes, levados por algum impulso incontrolvel ou por alguma emoo forte (medo, orgulho, ambio, vaidade, covardia), fazemos alguma coisa de que, depois, sentimos vergonha, remorso, culpa. Gostaramos de voltar atrs no tempo e agir de modo diferente. Esses sentimentos tambm exprimem nosso senso moral. 3 Em muitas ocasies, ficamos contentes e emocionados diante de uma pessoa cujas palavras e aes manifestam honestidade, honradez, esprito de justia, altrusmo, mesmo quando tudo isso custa sacrifcios. Sentimos que h grandeza e dignidade nessa pessoa. Temos admirao por ela e desejamos imit-la. Tais sentimentos exprimem nosso senso moral. 4 No raras vezes somos tomados pelo horror diante da violncia chacina de seres humanos e animais, linchamentos, assassinatos brutais, estupros, genocdio, torturas e suplcios. Com freqncia, ficamos indignados ao saber que um inocente foi injustamente acusado e condenado, enquanto o verdadeiro culpado permanece impune. Sentimos clera diante do cinismo dos mentirosos, dos que usam outras pessoas como instrumento para seus interesses e para conseguir vantagens s custas da boa-f de outros. Todos esses sentimentos manifestam nosso senso moral. 5 Vivemos certas situaes, ou sabemos que foram vividas por outros, como situaes de extrema aflio e angstia. Assim,