A exigência de uma nova ética
Como nunca antes na história do pensamento, a palavra “ethos” em seu sentido originário ganha atualidade. “Ethos” em grego significa a morada humana, aquele espaço da natureza que reservamos, organizamos e cuidamos para fazê-lo nosso habitat. A partir dele nos enraizamos, estabelecemos. nossas relações e elaboramos o sentimento tão decisivo para a felicidade humana que é o de “sentir-se em casa”.
Ocorre que “ethos” hoje não é apenas a morada que habitamos, a cidade na qual vivemos, o país no qual nascemos. “Ethos” é a casa comum, o planeta Terra. Precisamos de um “ethos” planetário. Como fazer que esta única casa comum que temos para habitar possa incluir a todos, possa se regenerar das chagas que lhe infligimos, possa se manter viva e assegurar sua integridade e beleza?
Essa ética não pode ser imposta de cima para baixo. Ela deve nascer da essência do humano. Deve poder ser compreendida por todos. E praticada por todos sem a necessidade de mediações explicativas complexas que mais confundem do que convencem.
Ela supõe uma nova ótica que dê as boas razões para a nova ética e seus valores. Quero apoiar-me em dois documentos que já recolhem certo consenso oficial. Eles podem ser guias para o tema da ética e da sustentabilidade. O primeiro é internacional, assumido pela UNESCO no ano 2000: A
Carta da Terra. O outro é latino-americano e representa o pensamento de ministros do Meio Ambiente da América Latina e o Caribe, do ano
2002, que leva como título: “Manifiesto por la Vida. Por una Ética para la
Sustentabilidad” (México 2003). Se bem repararmos, ambos os documentos têm muito em comum com as Metas do Milênio da ONU.
Utilizo livremente as intuições daqueles textos, dando-lhes uma elaboração pessoal.
O pano de fundo é bem expresso na introdução da Carta da Terra: “as bases da segurança global estão ameaçadas”. Esta situação nos obriga a “viver um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos