A Especificidade Da Educa O No Espa O Da Escola
“O Homem é a única criatura que precisa ser educada”. Kant
Muitas das idéias contidas neste texto podem ser tomadas por óbvias, algo que não chega a constituir-se em um problema para quem “tem um pé na filosofia”, e sabe que o óbvio é aquilo sobre o qual paramos de pensar. Compreensão que se articula com a definição de filosofia de Merleau Ponty, segundo o qual a verdadeira filosofia é “reaprender a ver o mundo”.
A primeira das obviedades é a aceitação do fato de que não nascemos humanos, mas, concordando com Kant, nos tornamos humanos pela educação. Assim, se nos animais ato e potência coincidem, no Homem isso não acontece. Nos primeiros a direção do desenvolvimento já está previamente traçada, enquanto no Homem a própria direção é uma construção humana, balizada pelos determinantes histórico-culturais.
Como “seres no mundo”, somos historicidade, e nossa existência, como quer Sartre, precede a essência, o que faz com que aquilo que chamamos “natureza humana”, seja um sentido instaurado por nós humanos. É este entendimento que torna compreensível que em alguns momentos da história já tenhamos nascido “naturalmente desiguais”, e em outros, “naturalmente iguais” (fenômeno que se repete nas comunidades de castas).
Fazendo uma analogia com as “melancias quadradas” dos japoneses, desenvolvidas no interior de caixas de vidro, podemos afirmar que os seres humanos desenvolvem-se no interior de “caixas de vidro” produzidas por diferentes modelos civilizatórios e culturais.
Seu modelo pode variar, mas sua existência, se concordarmos com Freud que “sem coerção não há civilização”, é imprescindível, uma vez que, diferentemente das melancias, não temos um modelo natural. Ser “humano” já é estar mergulhado/inserido na “caixa de vidro” da cultura.
Tomando cultura no sentido que propõe Clifford Geertz, como “teia de significados na qual nós nos inserimos tecendo-a”, podemos