A DÚVIDA DE CÉZANNE
Cézanne desenvolveu um gênero novo de representação de objetos no espaço. Ele foi um reiventor da natureza-morta, dando uma profundidade espacial através de meios composicionais. Ao renunciar a perspectiva linear na representação dos objetos, ele pode revelá-los nas dimensões impostas pela composição.
Inicialmente, Merleau-Ponty comenta sobre a insatisfação crescente de Cézanne com suas pinturas, suas inúmeras tentativas de representação do real através de sua arte. Na visão merleau-pontyana, a liberdade solitária de Cézanne seria resultado de sua fuga do mundo humano, onde a sua dedicação a um mundo visível representaria essa fuga. Entretanto, o filósofo não defende a idéia de que o sentido da obra de Cézanne deve ser determinado pela sua própria vida.
Quando o autor descreve sinteticamente os primeiros quadros de Cézanne até o ano de 1870, e posteriormente aponta à transição da concepção do artista acerca da pintura, no sentido de ultrapassar a idéia de uma representação de cenas imaginadas ou sonhadas, para o conceito de que a pintura seria “o estudo preciso das aparências” (MERLEAU-PONTY, 1980, p.115), ele nos atenta para a questão da representação dos objetos – foco característico marcante nas obras de Cézanne. Há aqui um desvelar de olhos, um fomento ao entendimento referente à visão e os sentidos, à relação sujeito e objeto. Por isso ele cita a intenção presente no Impressionismo, a tentativa de repor na pintura a forma pela qual os objetos atingem a visão e alcança os sentidos.
Mas em Cézanne, o uso das cores não carrega o mesmo fim que os impressionistas buscavam. O pintor explorava uma gama de cores (um total de dezoito cores) para construir os seus quadros. Uma construção que seguia rigorosas leis formais e cromáticas, e trazia uma expressão de solidez e materialidade. Para destacar as cores quentes – vermelho, laranja e amarelo, Cézanne empregava o azul. O desenho é resultado da cor. Estas e outras questões técnicas, tão bem