A desigualdade social no Brasil
André Silva Pomponet1
RESUMO
Embora evidentemente não seja o único fator determinante, a constituição do sistema de transportes na Bahia a partir de meados do século XIX foi decisiva para impulsionar ou retardar o desenvolvimento econômico das distintas regiões do estado. Configurado inicialmente a partir da inserção dos produtos locais no mercado internacional – a exemplo do cacau, do algodão e do fumo – esse sistema favoreceu e adensou a economia na larga faixa litorânea e, ao mesmo tempo, relegou ao atraso as atividades de subsistência em praticamente todo o hinterland semiárido. A lógica surgiu ainda nos primórdios da colonização, com a exploração mais intensiva das regiões cujo acesso por vias fluviais era possível, onde se cultivou a cana-de-açúcar. Posteriormente, os traçados das ferrovias, a localização dos portos e as rodovias se adaptaram à geografia da cultura primário-exportadora, mas, depois, gerou externalidades negativas para as regiões não incorporadas inicialmente a esses núcleos produtivos e beneficiadas pela existência de um sistema viário. Assim, imensas extensões do território permaneceram isoladas e, por conseqüência, pouco competitivas, integrando-se de forma débil às demais regiões do País e enfrentando profundas desigualdades sociais e interregionais. O quadro tornou-se ainda mais grave quando a crise da dívida e o avanço das privatizações, já em meados da década de 1990, reduziu a capacidade de investimento estatal. O objetivo do presente trabalho é mostrar como se configurou o sistema de transportes da Bahia entre meados do século XIX e a primeira metade do século XX e produzir uma reflexão sobre os efeitos dessa configuração nas regiões que não foram contempladas com infraestrutura de transportes e que, portanto, continuaram com produção escassa, baixa produtividade, agudas desigualdades sociais e pouco integradas às