A câmera-caneta
O conceito de câmera-caneta aparece pela primeira vez no texto “Nascimento de uma nova vanguarda: A câmera-caneta” (“Naissance d’une nouvelle avant-garde: La caméra stylo”) escrito por Alexandre Astruc, na revista L’Écran Français. Esse texto será retomado posteriormente por Truffaut e outros críticos da Cahier du Cinéma em escala mais ampla.
O conceito de câmera-caneta está intimamente ligado à noção de autoria, ou seja, expressão pessoal. Para Astruc, que tinha como cineasta referência o americano Orson Welles, o cinema torna-se um novo meio de expressão, assim como os romances e a pintura. O cinema passa a ser a arte de expressão pessoal, mas antes de ser uma arte particular é uma linguagem através da qual é possível expressar pensamentos de quaisquer natureza. Em frase síntese, “o autor escreveria com a câmera, assim como o escritor escreve com a caneta”.
Esse conceito é de grande importância para a valorização do diretor como criador da obra. Astruc afirma: para que fosse realizada de maneira efetiva a expressão individual na obra, aquele que escrevesse o roteiro deveria dirigi-lo posteriormente, porque, segundo Astruc, “num cinema assim, essa distinção do autor e do diretor não faz o menor sentido”(depois esse argumento será retomado por Truffaut).
A câmera-caneta ao ser o conceito representativo de uma liberdade criativa e de uma expressão própria do diretor na obra cinematográfica, coloca as produções da Nouvelle Vague em contraste com o cinema clássico francês e parte do cinema americano que estavam presos a padrões. O primeiro submisso aos teoremas e regras instituídos pela academia e o segundo refém das bilheterias.