A CRUZ E A ESPADA

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Nos chamados anos de chumbo vividos pelo Brasil, os da década de 1970, a Igreja Católica/CNBB aparecia nas avaliações de opinião pública como a instituição mais confiável do país. Isso era resultado das posições assumidas pela hierarquia, clero e associações católicas em defesa dos direitos humanos e pelo restabelecimento da democracia. As Forças Armadas, que encarnavam o regime ditatorial sob o qual vivíamos, eram, ao contrário, solidamente rejeitadas. Justiça se faça: a OAB ficava com a mesma bandeira da CNBB.

Hoje, segundo o Índice de Confiança na Justiça (ICJ), pesquisa realizada pela escola de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV), as Forças Armadas conseguiram 66 pontos porcentuais na avaliação do terceiro trimestre deste ano, e a Igreja saltou dos 34% de confiabilidade conseguidos no trimestre para 54%. A espada ganhou o primeiro posto; a cruz, o segundo.

Que "milagre" ter-se-ia operado? Não é difícil para especialistas associarem esse salto de aceitação com recentes pronunciamentos sobre a questão do aborto e sua eventual descriminalização. Foram manifestações potentes durante a campanha presidencial.

Vou mais adiante: enxergo na reconquista de espaço da Igreja Católica, fundadora da Nação brasileira, a uma retomada de seu viés profético. Não que tenha agora optado por candidatos ou partidos políticos, mesmo porque, é notório, parte da hierarquia e clero estiveram historicamente vinculados aos pais fundadores de siglas como o PT, por meio de nomes como frei Beto, e o pessoal da Teologia da Libertação, aí incluindo o ex-frade Leonardo Boff. E nem o hoje cardeal Cláudio Humes deixou de se associar a lutas desfraldadas, por exemplo, pelo sindicalista Lula, no ABC paulista, nos primórdios da vida pública do presidente.

Tenho a impressão que as gentes, no Brasil, ficam sempre à espera de uma posição da agremiação católica, em momentos cruciais. Mesmo que, como aconteceu logo em seguida à redemocratização, a Igreja perdesse sua posição de

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