A crise, o desemprego e alguns desafios atuais*
Ricardo Antunes**
Resumo: Este texto pretende indicar algumas das tendências presentes na crise atual e de que modo ela afeta intensamente a esfera do trabalho em escala global, seja por meio da erosão do trabalho contratado e regulamentado, seja pelo advento ou intensificação das mais diversas formas que encobrem mecanismos de maior exploração do trabalho, seja pela ampliação do desemprego estrutural. Além de apresentar algumas das presenças mais destrutivas em relação ao trabalho, o texto mostra como os capitais transnacionais buscam, nessa processualidade crítica, ampliar ainda mais o desmonte da legislação trabalhista. Por fim, esboça o desenho de um modo de vida alternativo, indicando alguns de seus principais mecanismos.
I. Uma nota sobre a crise atual
Estamos presenciando, no meio do furacão da crise global do sistema capitalista — que vem atingindo o coração do sistema capitalista, ou seja, o conjunto dos países centrais do Norte do mundo
—, a erosão do trabalho contratado e regulamentado, herdeiro das eras taylorista e fordista, que foi dominante no século XX e que está sendo substituído pelas diversas formas de “empreendedorismo”, “cooperativismo”,
“trabalho voluntário”, “trabalho atípico”, formas que mascaram frequentemente a autoexploração do trabalho. E presenciando também a explosão do desemprego estrutural em escala global, que atinge a totalidade dos trabalhadores, sejam homens ou mulheres, estáveis ou precarizados, formais ou informais, nativos ou imigrantes, sendo que estes últimos são os primeiros a ser penalizados.
Recentemente, numa manifestação de trabalhadores britânicos havia um cartaz que estampava os seguintes dizeres: “Empreguem primeiro os trabalhadores britânicos”. Esta manifestação era contrária à contratação de trabalhadores imigrantes italianos e portugueses. Na Europa, Japão, Estados Unidos e em tantas outras partes do mundo, manifestações semelhantes