A criança na história da educação
Na velha sociedade a criança era mal reconhecida, e pior ainda, o adolescente. A infância era simplesmente os primeiros anos da criança, nos quais ela era totalmente frágil. Logo que crescia um pouco a criança era colocada no mundo dos adultos. Era através dessa convivência que as crianças adquiriam os valores e os conhecimentos da sociedade na qual estavam inseridas. Não havia afeto nas famílias, o sentimento entre os cônjuges, entre os pais e os filhos não eram necessários à existência, nem ao equilíbrio da família. As trocas afetivas e as comunicações sociais eram realizadas portanto fora da família, num ambiente muito denso e quente composto de vizinhos, amigos, amos e criados, crianças e velhos, mulheres e homens, em que a inclinação se podia acontecer mais livremente. A escola substituiu a aprendizagem como meio de educação. Isso quer dizer que a criança deixou de ser misturada aos adultos e de aprender a vida diretamente, através do contato com eles. Através da importância que se passou a atribuir a educação a família tornou-se o lugar de uma afeição necessária entre os cônjuges e entre pais e filhos, algo que não era antes. Os pais se interessavam pelos estudos de seus filhos e os acompanhavam com toda solicitude habitual nos séculos XIX e XX. A família começou então a se organizar em torno da criança e a lhe dar uma tal importância, que a criança saiu de seu antigo anonimato, que se tornou possível perde-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela não pôde mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário limitar seu número para melhor cuidar dela. Pensar a criança na história significa considera-la como sujeito histórico, e isso requer compreender o que se entende por sujeito histórico. É importante perceber que as crianças concretas, na sua materialidade, no seu nascer, no seu viver ou morrer expressam a inevitabilidade da história e nela se fazem presentes, nos seus mais diferentes