a conquista da américa
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E – revista eletrônica
ISSN 1807-8591
SOBRE O DISCURSO DA NUDEZ E DA ANTROPOFAGIA: A INVENÇÃO DO
ÍNDIO E O PERCURSO DO OLHAR
Ivânia dos Santos Neves1
Universidade da Amazônia
RESUMO: Este artigo está voltado para analisar o olhar do colonizador em relação aos índios, tomando como referência teórica, a análise do discurso. Como os primeiros navegantes europeus olharam para os povos indígenas? Como colocaram em circulação, em suas narrativas e em suas telas, discursos sobre estas sociedades no Ocidente?
ABSTRACT: This paper is focused on the representations produced about indigenous subjects. I analyze how, since the first western representations of indigenous people in Brazil, the letters and first images, the colonial system has discursively invented a general indigenous subject, wild and anthropophagous that walks naked.
Entre os primeiros discursos europeus sobre o novo mundo, a forma como a nudez indígena foi tratada e a
Figura 01 - Índia do Pará
George Huebner (1864-1935)
propaganda de selvageria que subjaz em relação aos rituais de antropofagia merecem uma atenção maior. Embora as histórias das várias sociedades indígenas tenham percorrido diferentes caminhos em relação ao contato com a cultura ocidental e isso influencie bastante os hábitos indígenas, estes dois aspectos, que em grande medida foram inventados pelo sistema colonial, ainda hoje são concebidos como suas marcas identitárias inalienáveis.
Chamo a este processo discursivo iniciado pelos
(NEVES, 2009, 59)
europeus de “invenção”, porque penso que seja importante conhecer as condições de produção em que ele se constituiu. A invenção do índio implica pelo menos dois sentidos da palavra invenção. A partir de Nietzsche (1978, 92), podemos entender que se trata de uma falsificação forjada pelas relações de poder do sistema colonial, que instituiu um índio genérico. 1
Professora Pesquisadora, Doutora em Análise do Discurso pela