A complexidade e seus demonios
Entrevista à revista Thot, da Associação Palas Athena, no. 66, São Paulo, agosto de 1997, por ocasião do lançamento no Brasil do livro Meus Demônios.
Thot: Esse seu livro revela, de certo modo, algumas das fontes internas – os demônios, no sentido socrático do termo – que o inspiraram na concepção e desenvolvimento do pensamento complexo. Poderia começar dando uma visão panorâmica do tema?
E.M.: Hoje existem redes de pesquisa do pensamento complexo, constituídas em vários países da Europa e América Latina, como México, Colômbia e Argentina, das quais fazem parte centros universitários. Há também outros lugares onde existe interesse pelo tema, como aqui na PUC, por exemplo. Temos a intenção de realizar um Congresso Interlatino sobre o tema, ano que vem, no Rio de Janeiro, com a ajuda da UNESCO. Nesse encontro teremos várias seções. Uma delas é dedicada ao pensamento complexo propriamente dito, outra à relação entre ética e complexidade, outra à antropologia, outra ainda aos problemas específicos da América Latina.
Contamos com seis ou oito seções, mas a finalidade geral é reunir gente que vive as mesmas situações, mas que não se conhece. Quando estive na Colômbia, por exemplo, pessoas de Medellín, que trabalhavam há dois anos com pensamento complexo, não conheciam outras de Bogotá, que também estavam envolvidas com esses estudos. A finalidade do congresso, portanto é estabelecer uma rede de intercâmbio, desenvolver conexões.
Além disso, estamos providenciando a formação de uma entidade internacional, com os mesmos propósitos. Espero que vocês participem, e para isso vou mandar-lhes a documentação necessária. O que queremos é mudar o atual modo reducionista de pensar, modificar a compartimentalização do conhecimento. Há vários caminhos para isso. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe o Instituto Santa Fé, que também se dedica a esses estudos. Ele busca, sobretudo, uma concepção formal, matemática, da complexidade;