A ciencia da loucura
ROBERTO GOMES
Resumo - Este artigo analisa o conto de Machado de Assis, O Alienista, ficção centrada nos delírios de Simão Bacamarte, médico-psiquiatra, nela estão referidas as pretensões e impasses das concepções científicas do século XIX, em particular do Positivismo, que tem vínculos profundos com o nascimento das Ciências humanas. De um lado, a sede de explicação rigorosa de seu objeto, no caso, a Loucura, e, de outro, o direito que se arroga de dizer a verdade a respeito da Loucura e do Louco e de agir sobre ele com plenos e legítimos direitos. A obra de Machado denuncia o vínculo entre ciência e poder bem como a usurpação, pelo homem de ciência, do direito que cada um tem de dizer a própria verdade. O que conduz à ironia final: parece haver mais loucura na pretensão de estabelecer com nitidez a linha divisória entre Razão e a loucura que em perder-se entre seus supostos limites.
1. A imagem vivaz do gênio
Não percamos a imagem preciosa:
"Crispim Soares, ao tornar à casa, trazia os olhos entre as duas orelhas da besta em que vinha montado; Simão Bacamarte alongava os seus pelo horizonte adiante, deixando ao cavalo a responsabilidade do regresso. Imagem viva do gênio e do vulto! Um fita o presente, com todas as suas lágrimas e saudades, outro devassa o futuro com todas as suas auroras" (Assis, 1979, p. 259)
Imagem viva do Alienista, Simão Bacamarte surge como um moderno cavaleiro andante da ciência. Desbravador, sua vida é feita de rupturas e separações que fariam o vulto sofrer - mas dela as lágrimas e saudades foram banidas. Nada o comove exceto a ciência. Goza apenas das alegrias reservadas a um sábio e sobrevive num mundo dividido. O presente e o futuro. A besta e o gênio. O sábio e o vulgo. A razão e o sentimento.
Afastou-se da corte e das missões que lhe oferece el-rei e descobre que a ciência é seu único emprego e, ltaguaí, seu universo. Não terá filhos - a infertilidade, é óbvio, será de