A Cidade E O Esp Rito De Sistema Brand O
SÉCULO XVII
A CIDADE E O ESPÍRITO DE SISTEMA
Vimos que os monumentos aparecem como centros significativos que estruturam a cidade barroca. Em relação a eles, a existência humana readquire segurança e significado e vê-se referenciada pelos sistemas ideológicos e hierárquicos que deles emanam: no caso da Itália, esse sistema é o poder da
Igreja Católica renovada pela Contra-Reforma e, no caso da
França, é o poder da monarquia absoluta. Com compasso e esquadro, os arquitetos rasgaram as cidades, introduziram amplas praças, ruas compridas e retas ligando seus focos, e constituindo o sistemático e cenográfico urbanismo seiscentista. Nesse ambiente, o absolutismo leva o espírito do seu sistema até o infinito, organizando não apenas a cidade, mas toda a região e todo o país, não vendo limites para a sua autoridade. Nos séculos anteriores predominaram as relações econômicas entre cidade e cidade. No século XVII, predominavam as relações políticas entre Estados centralizados nas suas capitais, focos dos quais emanava o sistema e onde se centravam as maiores riquezas e os maiores monumentos: "A cidade monumental é a cidade capital e a grande criação histórica do barroco é a cidade capital do Estado moderno." Ou, como diz Norberg-Schulz, "a idéia barroca de um espírito sistematizado e infinitamente estendido encontrou sua principal manifestação no conceito, próprio do século XVII, de cidade capital". 1 9 Sede do poder absoluto, a capital é o centro de forças que concentra em si o poder máximo governante e subordina todo o território estatal e suas demais cidades, reduzidas a satélites sem vida própria. Dentro da capital existe uma hierarquia presidida pelos diferentes centros monumentais.
Dentre esses centros, um parece ser o mais importante: aquele
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Conferir tais citações em ARGAN. El concepto del espacio arquitectónico desde el Barroco a nuestros dias, p.58; NORBERG-SCHULZ. Arquitectura barroca tardia y rococó, p.18. Deste mesmo