A Caça , o Horror e o Real
“ A sexualidade é traumática enquanto tal” (COUTINHO,2000). Essa é uma das máximas da teoria freudiana e podemos e devemos fazer uso das suas lentes ,para enxergar em A CAÇA temas elementares da psicanálise como : Édipo, Castração, Histeria, Pulsão, Narcisismo , Fantasia ,Real ,Imaginário, Gozo, etc. Com aquela riqueza de detalhes próprios da arte de diretores como Vinterberg e Lars Von Trier.
Em mais um filme objeto do movimento cinematográfico DOGMA 95, o diretor Thomas Vinterberg não foge às regras brindando-nos com o realismo de costume em um filme absolutamente atual.
A primeira coisa que me ocorreu foi que estava assistindo a um filme sobre pedofilia, mas com o pedófilo “no include”, ou seja, sem um pedófilo de fato; o que de cara faz dele um filme bem intrigante . A história acende em primeiro plano uma suposta patologia (Pedofilia) que acometeria o personagem principal ( Lucas ,um quarentão cheio de qualidades essenciais a um “boa praça” ) e tem no recurso do imaginário a sustentação disto , mas o que Vintenberg quer expor ,de fato, é a patologia que está em segundo plano , do lado de fora da vida de Lucas , disfarçada pelo semblante e que se revela no decorrer da obra por uma contagiosa histeria coletiva.
O texto de Freud ‘Toten e Tabu (1913)’ nunca esteve tão atual como neste filme e nos serve de guia para mostrar o que Freud teria concluído através de estudos de povos ancestrais sobre as proibições humanas e suas origens, que :
“a possibilidade de incesto parece ser uma tentação na fantasia, mobilizada pela ação de laços vinculantes inconscientes” (FREUD, 1913).
LUCAS- este homem, acusado como “abusador” da criança (Klara), se vê vítima de uma cilada, fortemente engendrada pela força de Édipo. Estava ali, realizando honestamente seu trabalho no jardim de infância, quando sem se dar conta por uma ação corriqueira de quem trabalha com crianças, se vê no centro da cena como protagonista do amor de Klara.