Junto à porta de várias casas faziam-se grupos de pessoas assentadas em cadeiras ou no chão;acendeu-se o lampião do pátio. Iluminaram-se diversas janelas das casinhas, agora, no sobrado doMiranda é que era o maior barulho. Saía de lá uma terrível gritaria de hipes e huras, virgulada pelodesarrolhar de garrafas de champanha. Nisto começou a gemer à porto do 35 uma guitarra; era deJerônimo. Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo em tristeza; mas de repente, o cavaquinho do Porfiro,acompanhado pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorando baiano. E aquelamúsica de fogo doidejava no ar como um aroma quente de plantas brasileiras. Jerônimo levantou-se eviu Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia, surgir de ombros e braços nus, para dançar.Ela saltou em meio a roda, rebolando e bamboleando a cabeça, como numa sofreguidão de gozocarnal, num chorando arrastava a todos, despoticamente, desesperando que não sabiam dançar. EJerônimo via e escutava, sentido ir-se-lhe a alma pelos olhos enamorados. Naquela mulata estava ogrande mistério. Ela era o veneno e era o açúcar gostoso. Outras raparigas dançaram, mas o português só via a mulata. O círculo do pagode aumentou. Só deu por si, quando, já pela madrugada,se calaram de todos os instrumentos e cada um dos folgadores se recolheu à casa.Jerônimo ficou sozinho no meio da estalagem, mas nada mais sentia, nem ouvia, ecompreendeu que dentro dele aqueles cabelos crespos, principiavam a formar um ninho de cobrasnegras e venenosas que lhe iam devorar o coração. No dia seguinte, Jerônimo largou o trabalho àhora de almoçar, mal tocou no que a mulher lhe apresentou à mesa, ordenando-lhe que fosse ter comJoão Romão e lhe dissesse que ele estava incomodado. A notícia espalhou-se logo ali entre aslavadeiras. O doente pedia que lhe deixassem em paz, que ele do que precisava era de dormir. Ia protestar brutalmente contra outra