A Casa De Vidro
Se na realidade em que vivia o escritor e jornalista Ivan Angelo os pilares do Estado autoritário, como a polícia política, a espionagem e a censura, passam a ser cada vez mais ocultados da população por meio do aparato propagandístico e da censura aos jornais [FICO, 2004, p. 265-266], na ficção por ele elaborada o aparelho punitivo é submetido à transparência.
A prisão de vidro espetaculariza a pena, alimentando a curiosidade e o voyeurisme popular ao mesmo tempo em que dissemina o medo. Todos estes são elementos presentes nas punições medievais. No entanto, como uma prisão, a Casa de Vidro exibe aos passantes apenas a suspensão da liberdade, não ostentando espetáculos sanguinários e cruéis como nos suplícios [FOUCAULT, 1979]. A exibição torna-se, por isso, “monótona” e banal para os cidadãos com o passar do tempo. Não tendo conhecimento das razões das prisões, o sistema consegue aumentar o temor dos que estão fora. De outro lado, eis o grande mote da história, as funções de espiar e controlar são delegadas a toda a população. Esta passa a servir, então, ao princípio básico da disciplinarização no sistema carcerário: a sensação, por parte do preso, de estar sendo constantemente vigiado. E neste ponto a ficção toca num elemento das sociedades de controle na pós-modernidade: a disseminação da vigilância.
Apesar do simbolismo do vidro remeter à idéia de desnudamento e transparência, “A casa de vidro” é o mais metafórico dos contos. A modernidade do vidro carrega também uma barbárie [BENJAMIN, 1987]. A tortura não será exibida na prisão de vidro aos passantes e nem aos leitores. Ela é descrita subliminarmente, sem a riqueza de detalhes e crueza das outras cenas de violência ao longo do livro. A tortura é representada de maneira indireta, estilhaçada, nas