a casa de bonecas
Nesta peça apresentada em três atos, não há nem leves indicações da presença do adultério entre Nora e o Doutor Rank. Ibsen insinua essa possibilidade, para em seguida negá-la, deixando claras as transformações pelas quais as mulheres estão passando neste final de século. Não é este o obstáculo que se interpõe entre o casal Helmer, mas sim a conscientização gradual de Nora, que percebe o quanto abdicou de sua própria vida, primeiro em benefício do pai, depois do marido e de seus filhos.
Aqui está em jogo a tradicional renúncia e o sacrifício quase obrigatório da mulher em prol da família. Casa de Bonecas é um reflexo dos movimentos de liberação feminina. Neste sentido, pode-se dizer que é uma criação profundamente subversiva e polêmica. Na época, ela foi amplamente debatida em todo o continente europeu, provocando celeumas e severas críticas da protagonista, rejeitada por ter deixado tanto o marido quanto os filhos.
Nora Helmer, com o auxílio de Cristina Linde, passa a ter consciência de sua existência, de tudo que abriu mão em nome dos outros, das suas potencialidades, do quanto ela é capaz de viver sozinha, sem a ajuda de ninguém. Ela decide se afastar de todos justamente para ter um encontro consigo mesma, e assim descobrir quem é realmente, se emancipando, então, enquanto sujeito.
Desta forma, o autor põe em cheque as tradições que envolvem o matrimônio. Ele se inspirou em uma matéria jornalística que abordava a falsa elaboração de uma nota promissória pela esposa de um indivíduo que agia como se ela fosse uma boneca, mantida no total desconhecimento da vida. É justamente o que sua