A cartomante Peça teatral
Personagens:
Narrador
Rita (esposa)
Vilela (marido)
Camilo (amante)
Cartomante
Rita: há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia.
Camilo: Rindo diz- você foi consultar uma cartomante?
Rita: Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
Camilo: Errou! Rindo. ( ar irônico)
Rita: Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Camilo: pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. - Rita eu lhe quero muito, os seus sustos parecem de criança; em todo o caso, quando tiver algum receio, a melhor cartomante sou eu mesmo. Onde é a casa?
Rita: Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Camilo: riu outra vez: Tu crês deveras nessas coisas?
Rita:Se você não acredita, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhou tudo.
(tranqüila e satisfeita.)
Narrador: ia falar, mas reprimiu-se,lembrou-se das várias crendices de sua mãe. Contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
(Separaram-se contentes,) Rita passou na rua olhando para a casa da cartomante.
Nessa hora eles saem de cena, cada um para um lado e entra o narrador.
Narrador: Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego