A busca do ideal
Isaiah Berlin1 Existem muitos fins diferentes que podem ser buscados pelos homens, fazendo com que estes se sintam plenamente racionais, plenamente realizados, capazes de entendimento, compreensão e iluminação mútuas, da mesma forma que nos iluminamos com a leitura de Platão ou dos romances do Japão medieval - mundos e concepções muito distantes dos nossos. A intercomunicação das culturas no tempo e no espaço só é possível porque aquilo que faz dos homens seres humanos é comum a todos e estabelece uma ponte entre eles. Mas nossos valores são os nossos valores, e os deles são os deles. Somos livres para criticar os valores de outras culturas, condená-los, mas não podemos fingir que não os compreendemos em absoluto ou considerá-los apenas como subjetivos, produtos de criaturas vivendo em circunstâncias diferentes, com gostos diferentes dos nossos, que nada nos têm a dizer.
Existe um mundo composto de valores objetivos. Refiro-me aos fins buscados pelos homens por eles mesmos, para os quais as outras coisas não passam de meios. Não sou cego em relação àquilo que os gregos valorizavam; seus valores podem não ser os meus, mas posso imaginar o que seria viver à luz deles, posso admirá-los e respeitá-los, e até mesmo imaginar-me vivendo de acordo com eles, embora eu não faça - e não o deseje fazer, além de talvez não o conseguir fazer, mesmo que desejasse. As formas de se viver são diferentes. Os fins, os princípios morais são variados. Mas não infinitamente variados: eles devem se situar nos limites do horizonte humano. Caso contrário, estarão fora da esfera humana. Se me deparo com homens que adoram árvores, não como símbolos de fertilidade ou seres divinos, com poderes misteriosos e vida própria, ou por crescerem em um bosque consagrado a Palas Atena, mas apenas porque são feitas de madeira; e se, ao lhes perguntar por que adoram a madeira, eles respondem: “Por que é madeira”, sem qualquer outra explicação, então não sei o que