a atravessia
Existem períodos em minha vida que
batizo de "tempo da travessia". É como
se eu chegasse a beira de um rio de
corredeira e tivesse que atravessá-lo
em condições precárias. Sem barco, sem
ponte, sem a luz do dia, sem estrelas,
sem luar, só eu , o rio e a imensa
escuridão. É ali que o medo é mais
forte, a insegurança, o frio, a dúvida,
a sensação de fracasso , tudo me
assalta. Me sinto acovardada e recuo
sempre depois da passada: um passo e
um recuo, outro passo, mais um recuo.
É assim que o medo me pega, ele sabe
onde é meu ponto fraco. É nessa hora
que a solidão toma seu espaço e eu não
acho sequer uma lamparina para
iluminar o caminho.
Quando chega a noite, o silêncio é
ensurdecedor e o tempo parece não
passar. Passei um longo período assim,
com essa sensação, tolhida dos meus
próprios desejos, tentando achar um
caminho que fosse menos doloroso. Hoje
vejo que isso tudo isso faz parte da
minha travessia, e houveram muitos
caminhos que precisei seguir a pé e
sozinha, e esse foi o meu pedaço de
sofrimento. Desejei sim a cura
imediata, pedi a Deus várias vezes que
colocasse um ponto final o mais rápido
possível, pois inúmeros momentos achei
que não ia suportar tamanha prova,
mas aprendi que tudo tem o seu tempo
certo de plantar e de colher e o meu
ainda não havia chegado. Hoje
percebo que esse tempo nunca chega.
Aprendi que existe o tempo da estiagem
e o da tempestade e que só temos que
estar bem preparados para ultrapassar
os dois. No tempo da estiagem, temos
que ter humildade suficiente para
acumular riquezas espirituais para o
tempo da travessia, como por exemplo:
combater o egoísmo, lutar contra a
soberba, ter sabedoria suficiente para distinguir
o bem do mal, e vigiar tudo todo o
tempo. Saber olhar no espelho sem
máscaras e usar os olhos do coração,
pois no