A Arte De Procurar Livros Antigos
(O Top News – Goiânia – 6 a 12 de agosto de 1996)
A arte de procurar livros antigos, garimpar preciosidades, namorar prefácios e fuçar, por horas a fio, prateleiras e mais prateleiras empoeiradas e repletas de história para contar, apesar de antiga, não tinha um nome. Pequena falha resolvida em um momento de inspiração do poeta que mais admirou essa mania: Carlos Drummond de Andrade. Na década de 50, Drummond escreveu o Soneto da Buquinagem, dedicado, segundo contam, ao livreiro Carlos Ribeiro, fundador da Livraria São José (centro do Rio de Janeiro), o mais antigo sebo da capital carioca. Carlos Drummond de Andrade foi buscar na língua francesa a palavra buquinagem. Bouquin quer dizer livro antigo ou sebo, bouquiner significa comprar ou consultar um livro velho, de pouco préstimo, e bouquiniste é o nome dado aos livreiros parisienses que vendem livros às margens do rio Sena. A etimologia das palavras remonta à descrição dos longos anos passados sem ventilação, que dão, aos livros, um odor de bode (bouc). Hoje, o verbo buquinar já faz parte do Aurélio. E, com certeza, do dia-a-dia de muita gente, verdadeiros ratos de sebo. Para um bom buquinador, meia hora não basta. E preciso ter todo o tempo do mundo, muita disposição e, sobretudo, despir-se de preconceitos. Contra poeira, dedicatórias alheias (respeite-as sempre!), falhas na encadernação (qualquer obra pode perfeitamente ser encadernada) e preços bem baratinhos. Também é muito importante, às vezes, não ter em mente nada em especial, nenhum título, e simplesmente ir deixando os dedos e os olhos deslizarem por entre os milhares de livros espalhados pela loja. Até que eles sejam surpreendidos por alguma paixão à primeira ou à segunda vista. Há quem diga que buquinar é um ato quase mágico, a porta de entrada para a universalidade das coisas e das pessoas, da cultura do mundo...
Rotatividade A peculiaridade do acervo dos