A arte de fazer nada durante aulas
— Vai ser melhor largar no bosque o João e a Maria, que são espertos e, com a ajuda de Deus, poderão encontrar quem os tome para si. Ficando juntos é que morrerão de fome e frio.
A mulher, muito a contra-gôsto, concordou, a chorar. João não estava a dormir e ouviu o que diziam os pais. Deixou o enxergão, escorregou para a porta, abriu-a e foi apanhar umas pedrinhas brancas à beira do rio que passava ao pé da casa.
Nascendo o sol, o pai chamou João e Maria para que fossem com êle a ajudá-lo a buscar lenha. Foram todos. Andaram, andaram, e quási ao meio-dia, disse o pai:
— Fiquem vocês aí, comendo esse pão até que eu volte…
Ficaram os dois por muito tempo aguardando que o pai voltasse. Foram as horas passando e já a noite caía, ouvindo-se o uivo dos lobos. Maria começou a lamuriar mas o João falou assim:
— Não chore, irmã. Vim pelo caminho deixando cair umas pedrinhas que marcarão a estrada. Vou-me guiar por elas e alcançaremos nossa casa.
Dito e feito. Encontrada a primeira pedrinha, João viu a segunda e assim, de uma a uma, foram-se guiando através do bosque até que viram, de longe, a luz da choupana dos pais. Lá a mãe estava inconsolável e como aparecera dinheiro em pagamento de uma carga de lenha, havia pão com abundância e maior era o remorso pelo abandono dos filhos no bosque, entregues aos lobos, Quando bateram à porta e a mãe reconheceu-os, foi uma alegria que não tinha fim.
Dias depois já não havia dinheiro e o pão acabara. Voltou a fome e novamente o pai lembrou a idéia velha de deixar o casalzinho de filhos no bosque. João, alerta, não poude ir apanhar as pedrinhas porque a porta estava fechada. Pensou