zadig
I
O Caolho
II
O Nariz
III
O Cão e o Cavalo
IV
O Invejoso
V
Os Generosos
VI
O Ministro
VII
Demandas e Audiências
VIII
O Ciúme
IX
A Mulher Batida
X
A Escravidão
XI
A Pira
XII
A Ceia
XIII
As Entrevistas
XIV
O Salteador
XV
O Pescador
XVI
O Basilisco
XVII
Os Combates
XVIII
O Eremita
XIX
Os Enigmas
XX
A Dança
XXI
Os Olhos Azuis
ZADIG
VOLTAIRE APRESENTAÇÃO Voltaire (François-Marie Arouet) foi um dos grandes filósofos do Iluminismo. Dentre as suas qualidades destaca-se a ironia, às vezes gentil, em outras sarcástica e, não poucas vezes, profundamente destrutiva. Suas obras dão sentido à velha máxima: “Ridendo Castigat Mores” (com o riso castigam-se os costumes).
Zadig não é diferente; ironiza o poder, a organização política, a riqueza, o orgulho as pretensões da burguesia, a riqueza, a inveja e muito mais.
Vale hoje como valeu em seu século.
Nélson Jahr Garcia jahr@jahr.org ________________________________________ ZADIG OU O DESTINO
Uma história oriental
Voltaire
I
O CAOLHO No tempo do rei Moabdar havia em Babilônia um jovem chamado Zadig e cuja boa índole se aprimorara pela educação. Embora moço e rico, sabia moderar as paixões, não afetava nada; não pretendia ter sempre razão, e costumava respeitar a fraqueza dos homens. Era de espantar que, com tanto espírito, jamais procurasse meter a ridículo esses diálogos tão vagos, tão incoerentes, tão irrequietos, essas temerárias maledicências, esses juízos ignaros, essas grosseiras chocarrices, esse vão palavrório, a que se chamava conversação em Babilônia. Aprendera, no primeiro livro de Zoroastro, que o amor-próprio é um balão cheio de vento, de onde brotam tempestades quando se lhes dá uma alfinetada. Não se vangloriava, principalmente, de desprezar as mulheres e subjugá-las. Era generoso; não se arreceava de prestar serviços a ingratos, conforme este grande preceito de Zoroastro: “Quando comeres, dá de comer aos cães, ainda que te mordam”.