Voz do Sangue e Grito Negro - uma hipótese de leitura
Palpitam-me
os sons do batuque e os ritmos melancólicos do blue
Ó negro esfarrapado do Harlem... ó dançarino de Chicago ó negro servidor do South
Ó negro de África negros de todo o mundo eu junto ao vosso canto a minha pobre voz os meus humildes ritmos.
Eu vos acompanho pelas emaranhadas áfricas do nosso Rumo
Eu vos sinto negros de todo o mundo eu vivo a vossa Dor meus irmãos.
Grito Negro
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão.
E fazes-me tua mina
Patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão
Para te servir eternamente como força motriz
Mas eternamente não
Patrão!
Eu sou carvão!
Eu tenho de arder, sim
E queimar tudo com força da minha combustão
Eu sou carvão!
Tenho que arder na exploração
Arder até às cinzas da maldição
Arder vivo como alcatrão, meu irmão
Até não ser mais tua mina
Patrão
Eu sou carvão!
Tenho que arder
E queimar tudo com o fogo da minha combustão
Sim!
Eu serei o teu carvão
Patrão”
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA
Curso Letras Português Espanhol – noturno
Literaturas de Língua Portuguesa III
Prof. Luis Fernando Marozo
Acadêmica: Adriana Batista Lopes
POESIA “NEGRA” – por Agostinho Neto e Craveirinha
Agostinho
Neto
e
Craveirinha,
africanos,
negros,
poetas
contemporâneos; um angolano e outro moçambicano, viveram e participaram da luta que seus países travaram para se tornarem nações independentes de
Portugal. Ambos negros, carregavam as marcas de um passado mais distante
– a escravidão – a lírica dos dois poetas é carregada dessas questões sociais e históricas, ainda que de forma distinta, como podemos observar nas poesias: A
Voz do Sangue e Grito Negro.
A Voz do Sangue, de Agostinho Neto, é um lamento sentido, mas orgulhoso do sangue “negro” que pulsa em seu corpo: “palpitam-me os sons do batuque”. A poesia remete explicitamente aos negros arrancados da África, aos irmãos que foram espalhados pelo mundo, pela América: “[...] ó negro