604 2889 1 PB
CRUZ E SOUSA: EMPAREDADO EN SU POEMA
Andréa Cesco1
RESUMO: Este artigo busca fazer uma leitura crítica do poema em prosa ―Emparedado‖, do poeta simbolista João da Cruz e Sousa. O longo poema ―Emparedado‖ fecha o volume do livro de poemas em prosa Evocações, de 1898. Este livro, que possui um total de 36 poemas, apresenta, trabalha e explora os problemas sociais e humanos vivenciados pelo poeta, que busca expressá-los através de uma nova forma literária. O ―Emparedado‖ é, segundo boa parte dos críticos, o seu testamento de poeta e de homem. E ainda que escreva não só sobre sua situação pessoal, mas a respeito do sofrimento e da dor de todo ser humano, o poeta enuncia conceitos de arte, para justificar a sua atitude adotada nas letras.
PALAVRAS-CHAVE: Emparedado. Cruz e Sousa. Poema. Leitura crítica.
É consensual que Cruz e Sousa é a figura mais importante do nosso Simbolismo. Nas palavras de Lauro Junkes2, o poeta ―não é apenas uma glória para seu estado natal, é alto patrimônio nacional e alvo da mais elevada consideração internacional‖3. Para Luciana StegagnoPicchio, ―ele é um ser inovador no que concerne a uma tradição cultural não condicionante, e ao mesmo tempo hipercorreto na aplicação de uma técnica nova e na adoção de uma nova estética‖
(1997, p. 342).
Cruz e Sousa, para Andrade Muricy, é também ―o mais trágico dos poetas‖ (In:
COUTINHO, 1979, p. 81). Essa tragicidade, segundo ele, está presente nos seus livros póstumos:
Evocações (1898), Faróis (1900) e Últimos Sonetos (1905), e nos textos inéditos e dispersos.
Para este crítico, ele é verdadeiramente o ―Dante Negro‖, como alguns o chamavam e outros ainda o chamam, o poeta da comédia trágica e da comédia da morte que encontramos nos seus altíssimos poemas apocalípticos: ―Luar de Lágrimas‖, ―Ébrios e Cegos‖, ―Os Monges‖,
―Recorda‖, ―Velho Vento‖; na prosa do ―Emparedado‖, ―No inferno‖, ―Intuições‖, ―Consciência
Tranqüila‖, supremos apogeus da sua obra.
1
Professor