Voa, Passarinho
Preso. Suas asas não desfrutam mais das brisas e ventos. O azul do céu está longe, distante... O que outrora era a vida, indomável, agora se resume a um cenário adornado com a frieza de barrinhas de metais, e um rústico empoleiro. “Por pouco tempo fico aqui”, pensa a avezinha. A cada movimento, barulho ou simples farfalhar do vento, a imensidão da vida se vem à sua pequena mente... Há esperança.
Lembra-se dos seus dias gloriosos, planando ao sol, competindo com as intocáveis nuvens, singrando o céu, sulcando o sentido da sua vida- voar. A quem foram dadas asas, que seja para voar, ora essa.
A avezinha continua lá, a mercê do seu captor. Seu mundo foi diminuído drasticamente. Antes tinha o infinito, agora tem uma gaiola.
O raptor, que se acha no direito de privar o bicho de sua liberdade, retira o tadinho da gaiola. No entanto, coloca nele grilhões duros e rudes. Já não são as grades que lhe impedem mais... Ele força seus músculos, expande suas asas. Nada. O peso do metal é demais para alguém como ele, fraco, sem dedos.
É desproporcional a diferença entre cativo e algema. Num ato de maldade, o homem tira-lhe as correntes. Contrariando as expectativas lógicas, sim, foi maldade. Ele prendeu uma fina, quase invisível, corda à sua patinha esquerda. Certo teor de escárnio está diluído em tal ato. O pássaro pode voar, só que não muito, ainda está limitado. Olha o mundo a frente. Mas só olha. Não pode tê-lo.
O rito de busca pela infinitude dos tempos livre se repete. A ave alça voo, mas só sai do chão até o cumprimento da linha. Nada mais. Seu universo voador se resumiu ao tamanho métrico daquela corda. Por mais que tentasse, não iria conseguir, era óbvio. Aí está a maldade do raptor. A leveza e delicadeza da linha frente ao grilhão deu esperança ao coitado. Uma esperança vã, infelizmente. Ele não escapou graças a sua força de vontade, nem heroicamente decepou sua pata, ou roeu com seu bico a corda “privadora” de liberdade. Não. Ele ficou preso.