Vivência de uma Transferência Erótica e suas Facetas
Luciana Renata de Melo
RESUMO: A transferência erótica consiste em um processo relativamente comum na prática clínica do psicanalista, constituindo-se em um tema de grande interesse teórico e prático, apesar de pouco estudado. Isso porque, na realidade, a despeito de ser visualizado como um obstáculo para o progresso da análise, essa forma de transferência pode ser utilizada como um valioso recurso para o processo analítico, bem como para o entendimento de partes da história pessoal e do desenvolvimento e do funcionamento psíquico do paciente. Este artigo possui como objetivo fazer uma revisão teórica deste importante fenômeno, bem como relacionar este conceito com as experiências vivenciadas no setting entre uma terapeuta e uma paciente de 56 anos em atendimento psicoterápico de orientação psicanalítica em uma clínica-escola de Psicologia.
Palavras – Chave: transferência; transferência erótica; amor transferencial; transferência amorosa.
O fazer do camponês não desafia o solo do campo.
Ao semear a semente, ele entrega a semeadura às forças do crescimento e protege o seu desenvolvimento.
Heidegger, Aquestão da técnica
REVISÃO TEÓRICA:
Ao se tratar de um assunto como a transferência erótica, remeter-se-ia, consequentemente, a um tema bastante antigo, coincidindo com as origens da Psicanálise. Poder-se-ia até mesmo ter a ousadia de afirmar que este assunto era bem caro a Freud, pois segundo analistas que construíram a história da Psicanálise, o motivo principal da ruptura entre Freud e Breuer corresponderia ao fato de que este não conseguiu lidar com a transferência erótica de Ana O. (Masi, 1988). Portanto, nota-se que a transferência, em Psicanálise, já nasceu erótica, originando-se do temor de Breuer diante dos sentimentos inesperados de sua paciente Ana O. (Andrade). Importante