A TRAVESSIA DE ULISSES PELO COMPLEXO DE ÉDIPO: ELABORAÇÕES PSICANALÍTICAS ACERCA DE UM CASO CLÍNICO
17855 palavras
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A TRAVESSIA DE ULISSES PELO COMPLEXO DE ÉDIPO: ELABORAÇÕES PSICANALÍTICAS ACERCA DE UM CASO CLÍNICOLuana Nogueira de Farias Moura
INTRODUÇÃO
Este trabalho decorre de um relatório clínico construído a partir da experiência do estágio em clínica na abordagem psicanalítica. A vivência proporcionada pelo encontro terapêutico (em 10 sessões) com uma criança de 10 anos e seus pais incutiu em mim o desejo de aprofundar algumas discussões teórico-clínicas acerca da sintomática por ele apresentada e de sua travessia pelo complexo de Édipo.
Falar de uma experiência clínica em psicanálise requer apropriações conceituais, exercícios interpretativos, treinamento da escuta. Ou seja, primeiro é preciso aprender a ouvir, para então ensaiar possíveis elaborações. Freud nos ensina que ([1938/1940]1969, p. 235) não há uma maneira de transmitir o conhecimento de um conjunto complexo de acontecimentos simultâneos, a não ser descrevendo-os sucessivamente, "e assim acontece que todas as nossas descrições são falhas, de princípio, devido à simplificação unilateral, e têm de esperar até que possam ser suplementadas, elaboradas e corrigidas".
Assim, não há uma forma pré-estabelecida de se apresentar um caso clínico em psicanálise, nem nos valeria discutir acerca do caráter “verídico” dos fatos, posto que Freud ressaltou o peso da realidade psíquica em detrimento da factual. Mais do que mera apresentação da história de uma criança e sua neurose, propomo-nos, desde o princípio (quando ele ainda estava em atendimento) até o momento da escrita deste trabalho, a construir este caso clínico, por entender que a construção se dá a partir da escuta de um discurso e do (re)arranjo dos elementos que o constituem, sejam eles teóricos ou subjetivos, recheado de palavras ou ações. Por este motivo utilizaremos o verbo no presente, narrando o caso a partir de um “hoje” que se refere a um ontem, demonstrando a dimensão dinâmica da construção analítica do caso. Nas palavras de Figueiredo (2004,