VIVA LITERATURA
Do ponto de vista formal, o texto se caracteriza como soneto clássico. Para chegarmos a esta afirmação, basta observar o esquema métrico - os versos são decassílabos – e o esquema rítmico – as rimas são regulares (ABBA; BAAB; CCD; EED). Lembre-se o soneto apresenta sempre a estrutura fixa 2 (dois) quartetos e 2 (tercetos).
Na primeira estrofe, o eu-lírico relaciona a vida social do homem à vida dos animais selvagens, por meio de imagens (lama, terra miserável e fera) que lembram o estilo naturalista, em seu determinismo cientificista e em seu materialismo. Isto sinaliza que o poeta combina elementos tradicionais, próprios de estilos desenvolvidos até o século XX, com elementos que anunciam o Modernismo, iniciado no século XX. Trata-se, portanto, de um autor de transição. Vamos analisar como se dá esta transição.
Os versos que iniciam a segunda e a terceira estrofes apresentam um tom de conselho ou ordem, que é reiterado no desfecho do poema. Este conselho é introduzido pelas as formais verbais “acostuma-te” e “toma”. Na segunda estrofe, o eu-lírico supõe que o leitor se acostumou a “lama te espera!”, isto mostra uma associação entre o naturalismo e o determinismo, questões da ciência muito presente na literatura no final do século XIX. Repare que o conselho ou ordem da terceira estrofe introduz no poema, de forma inesperada, um tom prosaico, de conversa cotidiana. O verso surpreende o leitor de forma irônica e provocativa, fazendo lembrar o Realismo psicológico de Machado de Assis. Por meio da surpresa, da ironia e da provocação, o eu-lírico procura quebrar a expectativa do leitor, como se o aconselhasse a se preparar para ler a afirmação cruel sobre o ser humano que vem a seguir. Para isso, o eu-lírico utilizou o modo verbal imperativo.
Outro recurso fundamental para fazer o poema cair na graça do público em geral é o vocabulário. O vocabulário escandaliza o leitor