violência urbana
ESENHAS
LEITE, Márcia Pereira; BIRMAN, Patrícia [et al.] Um mural para a dor: movimentos cívico-religiosos por justiça e paz. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2004, 350pp.
A
EXPOSIÇÃO DA DOR: DIFERENTES PERSPECTIVAS E PERCEPÇÕES
ACERCA DA VIOLÊNCIA URBANA
Edlaine de Campos Gomes
“Um assassinato é uma tragédia, mas milhares de mortes tornam-se meras estatísticas” (:313). Esta frase traz à tona o eixo que atravessa os oito capítulos desse livro, no qual se analisa uma série de eventos espontâneos ou organizados em repúdio à violência urbana na cidade do Rio de Janeiro e que culminaram no chamado “Basta! Eu quero paz”, coordenado pelo Viva Rio. O recrudescimento da violência no cenário carioca – marcado, no início dos anos 1990, pelas chacinas de
Acari, Vigário Geral e Candelária, pelos “arrastões” nas praias cariocas no mesmo período – e pelo seqüestro do ônibus 174, em 2000 – deu maior visibilidade à violência e às desigualdades sociais como componentes expressivos do espaço urbano.
Esses acontecimentos não ocorreram nas periferias ou em áreas escondidas do olhar da multidão. Os assassinatos e as chacinas não ocorreram nos matagais da Baixada
Fluminense, nos morros ou na periferia. Não estavam delimitados pelo segredo, pelo medo ou pelo silêncio que dominam e orientam a atuação dos grupos de extermínio e do tráfico de drogas. Estavam diante dos olhos de todos, mesmo daqueles para
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Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, 27(1): 193-204, 2007
os quais esses tipos de violência não passavam de eventos distantes, geralmente associados à vizinhança pobre, negra e periférica.
O livro Um mural para a Dor: movimentos cívico-religiosos por justiça e paz analisa com grande sensibilidade as perspectivas, percepções, emoções e reações provocadas pelos acontecimentos mencionados. A abordagem empregada pelos autores
– que analisam a pluralidade de versões sobre a violência e as diferentes formas de reação a ela, em especial o