Vinicius de Moraes
O primeiro Vinicius - na poesia ou no teatro - é um autor tomado pelos dilemas de natureza metafísica e transcendental. Cordélia e o Peregrino, sua estréia no teatro em versos, é contemporânea das Cinco elegias, embora só tenha sido publicada vinte anos depois. É um relato do poeta lutando contra a contingência humana cuja mesquinharia o atormenta. Cordélia, a mulher idealizada, serve-lhe de guia para a travessia de um mundo impalpável para outro, mais perto do chão, repleto de paixões e misérias.
Orfeu da Conceição, encenada em 1956, impressionou público e crítica pela intensidade lírica que aportava ao universo dos negros de um morro carioca. Inspirada no mito grego do cantor que perde a sua musa e cala de dor, revelava as canções de Tom Jobim e Vinicius, inaugurando uma parceria que alterou o rumo da música popular brasileira.
O teatro de Vinicius evolui naturalmente para o drama melancólico, afeito a uma visão pessimista do humano. Procura-se uma rosa, baseada numa vaga notícia de jornal - peça de três autores em três atos independentes, um deles escrito por Vinicius -, parte da premissa de que a poesia está em todos os lugares, até numa delegacia de polícia, e ao verdadeiro poeta cabe extraí-la da ganga bruta do cotidiano.
Em seguida, e em correspondência a uma transformação interior, Vinicius engaja-se num teatro de denúncia. Imagina dramas históricos, que apenas esboça, ou de forte apelo social. Nesse gênero inscreve-se As feras, tragédia hiper-realista que narra, com o rigor de um cientista, a desgraça que se abate sobre uma família de nordestinos obrigada a migrar para o Rio de Janeiro.
Finalmente dedica-se às comédias musicadas, que aproveitam seu talento